sábado, 15 de setembro de 2007

Por que os jovens amadurecem mais cedo nos dias de hoje?


O teu filho não é teu filho, é filho do seu tempo" - citou Confúcio.

Falar no amadurecimento deles depende muito do contexto social em que vivem. Por exemplo, os jovens europeus e americanos são muito mais estimulados à leitura em comparação com os brasileiros. Essa característica com certeza contribui para seu amadurecimento.

Hoje as mudanças são bem mais rápidas que anteriormente, inclusive para os próprios pais desses jovens fica difícil esse acompanhamento.

Seus avós foram criados na repressão, seus pais, numa proposta mais livre da década de 60 e agora esses jovens vivem um momento de repensar tudo isso, achar seus próprios valores. Os pais preparam o filho para o mundo num discurso de independência pessoal, mesmo não se sentindo pronto para tantas responsabilidades. O jovem é criado para ser o melhor. Para os pais, tem que estar devidamente preparado para o mundo competitivo. Cursos de inglês, de informática e tantos outros, instrumentalizando o adolescente de todas as maneiras.

Por essas pressões, o adolescente sente a necessidade de se afastar da família para se unir aos jovens que tenham uma identidade próxima a dele. Esse grupo compartilha as mesmas ansiedades e dúvidas, fortalecendo uma união entre eles. Se há uma boa relação com a família, o jovem vai manter esse vínculo, essa referência de um porto seguro, apesar de ser necessário um certo afastamento da família para ele exercitar sua individualidade e descobrir sua nova personalidade.

Atualmente, enfrentam uma fase de reorganização familiar; separação dos pais, processos de adoção por homossexuais, agrupamento de filhos em uma nova família. Além do que, o modelo do pai provedor e da mãe dona de casa não vem se repetindo. Os pais estão correndo atrás da qualidade de vida deles próprios. As mães que se descobrem na sua profissão estimulam a independência dos seus filhos que vão amadurecer mais rápido. Atingem mais cedo a puberdade. Inicialmente ocorrem as transformações físicas, forçando esses jovens a uma maturidade emocional.

Nos séculos passados, jovens de 10 a 12 anos já trabalhavam, com 15 anos iam para a guerra. Etapas eram puladas até porque a expectativa de vida era menor na época. Tanto tempo se passou e a estória se repete nos casos do trabalho infantil; crianças que trabalham nas minas de carvão ou nas lavouras de cana de açúcar. Infelizmente são exemplos de um amadurecimento mais precoce. Instituições governamentais tentam amenizar esse quadro, fornecendo um salário para a família retirar a criança do trabalho infantil e colocá-la na escola.

Com a facilidade das informações, a força da mídia, as transformações sociais e pela necessidade de sobrevivência, o adolescente hoje tem voz ativa, decide e é respeitado nos seus desejos. Ele quer buscar sua identidade, seu espaço e não vai querer ser direcionado ou superprotegido. Por outro lado essa independência pode surgir pelas necessidades, ele manuseia o microondas, faz sozinho suas tarefas, mas internamente ainda demonstra muita dependência afetiva. Esse adolescente se adapta a uma realidade sem conquistar ainda uma base emocional para isso. O corpo muda mas a cabeça é de uma criança.

Nessas fases de transformação, sentem-se inseguros e sós, sendo estes sentimentos minimizados pelo apoio da família. Em lares desestruturados a solidão da jovem é mais intensa, sendo uma grande causa da gravidez na adolescência.

A mãe deve manter um vínculo mais forte com seu filho até os 12 anos. Após essa idade, passaria para uma fase de liberdade vigiada. Os adolescentes precisam do controle, quebram as regras para desejarem ser enquadrados nos padrões familiares. Isso trás uma boa sensação de segurança para eles. As regras são a porta de entrada para a vida social e o respeito ao outro.

Não adianta falar para o adolescente como deve agir, os pais devem agir para que o filho siga sua conduta. O pai que mente ensina o seu filho a mentir para as outras pessoas. Alguns pais perderam a noção de ética, princípios e não souberam impor limites aos filhos.

O mundo adulto vive uma época de extrema individualidade, cada um por si, preocupado consigo mesmo e o jovem pode perder a referência dos valores. Os ídolos mudaram, crianças de 5 anos seguem padrões erotizados nas danças e roupas sensuais. Esses estímulos desencadeam respostas hormonais, fazendo com que meninas de 9 anos menstruem. Ocorre uma mudança externa sem o preparo interno.

As mudanças estão acontecendo. Não dá ainda para prever como serão estes futuros adultos. Os modelos não estão fechados, os conceitos podem mudar da noite para o dia. A escola pode contribuir muito nessa transformação por ensinar filosofia, cidadania e ética. Os jovens passam a tecer críticas por embasamento, questionam esses novos valores e acabam plantando essa semente de mudança dentro da sua família.
Arina Isabel das Chagas - Psicóloga Infantil e Psicopedagoga
Fonte: Servivo